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A saída dos filhos de casa

Qual a idade certa para os filhos deixarem a casa dos pais e como os pais se sentem com isso?
A saída dos filhos da casa dos pais é um momento muito delicado na interação familiar, que requer várias considerações:
1-) Dependência Inicial:
Ao nascer o filho depende totalmente dos pais, principalmente da mãe, pois tudo o que ele precisa para sua sobrevivência é, na maioria das vezes, a mãe quem fornece : alimento, amor, aconchego, cuidados. No nascimento acontece o parto biológico. O tempo passa, a criança cresce e na época da entrada para a escola se dá o parto psicológico, ou seja, a partir deste momento ela consegue ter um mundo próprio relacionando-se com amigos e professores, tornando-se de certa forma independente dos pais. A maioria dos pais reage de maneira satisfatória neste momento de evolução de seus filhos, porém pais inseguros, carentes e dependentes do afeto dos filhos sentem-se trocados pela escola dificultando inconscientemente o processo de adaptação escolar de seus filhos.
Os filhos continuam crescendo, os vínculos familiares vão sendo construídos, até que chega o momento de saírem da casa de seus pais, é o segundo parto psicológico. É quando por motivos diversos como: casamento, estudos em locais distantes, trabalho, ou simplesmente para morarem sozinhos, os filhos necessitam se afastar do convívio na mesma casa com seus pais.
Podemos dividir esse processo da saída da casa dos pais em três aspectos distintos: Maturidade, Rebeldia ou Dificuldade no Convívio Familiar.
2-) “Qual a busca do filho ao sair de casa?”
- Maturidade:

- O filho cresceu e se transformou em adulto, com seu modo de pensar e agir, sua busca geralmente é a independência emocional e financeira. Encontra-se na maioria das vezes no processo de individuação, ou seja, quando a pessoa atinge a maturidade para tornar-se ela mesma. Necessita desprender-se da proteção e do amparo dos pais para a construção de seu eu, que é único e exclusivo, diferente algumas vezes dos padrões familiares.
Esse momento deveria ser vivenciado pelos pais com orgulho e alegria, com um sentimento de “missão cumprida”, vitória. Pais bem resolvidos sentem o contentamento de ter dado o seu melhor na ajuda desse aprendizado que é se tornar adulto, onde o filho demonstra responsabilidade para com suas atitudes, objetivos de vida, transformando-se pouco a pouco num ser livre, com seu próprio jeito de ser e de viver. Os vínculos entre pais e filhos estão preservados, o amor continua o mesmo. O respeito e a admiração de ambos os lados aumentam, o filho sente que está sendo reconhecido pelos pais como adulto que é.
Infelizmente, em muitas famílias a realidade é bem diferente tornando esse processo motivo de muita dor, aonde os pais chegam a adoecer entrando em depressão, desenvolvendo muitas vezes a “síndrome do ninho vazio” que é um estado de profundo sofrimento, uma sensação de vazio, de perda, como se fosse um luto.
Tudo isso acontece quando os pais não conseguem se desprender da antiga relação que tinham com o filho, para construírem uma nova maneira de se relacionar que é a relação de adulto para adulto.
- Rebeldia:
Neste caso, o filho não demonstra amadurecimento emocional e/ou financeiro suficiente para sair da casa de seus pais, o que busca geralmente é a liberdade, a consciência tranqüila para fazer escondido o que os pais reprovariam, querendo fazer o que quiser sem ter que dar satisfação aos pais. Continua a depender dos pais, principalmente em relação ao financeiro. Muitas vezes depende dos pais para os afazeres básicos: alimentação e lavagem das roupas.
- Dificuldade no Convívio Familiar:
Ocorre quando a relação familiar não é saudável nem harmoniosa havendo brigas, falta de respeito, autoritarismo, super-proteção, relações onde predominam o domínio, a falta de flexibilidade e de entendimento. Dificuldade de tratar os filhos como adultos.
Muitos pais expulsam seus filhos inconscientemente ao agirem de forma autoritária, querendo que os filhos os obedeçam à força, impondo suas regras, não respeitando e muitas vezes nem ouvindo as opiniões dos filhos. Geralmente esses pais não conseguem lidar com opiniões diferentes da sua. 
Já ouvi muitos filhos se queixando da forma como os pais se referem a eles: “enquanto você morar na minha casa... estiver em baixo do meu teto... eu te sustentar... vai ter que fazer o que eu mandar e pronto,” ou: “ a casa é minha, os incomodados que se retirem...”
Existem pais que dão trabalho aos filhos, dificultando seu desenvolvimento. Existem filhos que dão trabalho aos pais, os decepcionando com atitudes irresponsáveis, uso de drogas, gravidez precoce e outros.
Filhos de pais autoritários saem mais cedo de casa, muitos procuram estudar longe, ou casam cedo sem estar preparados, para se verem livres dessas relações de uma forma mais aceita pelos pais.
3-) Situações onde os filhos demoram a sair de casa:
Existem situações diversas das citadas acima.
- A independência do filho pode ser conseguida mesmo que ele opte por morar junto com os pais, desde que tenha uma atitude de adulto, dividindo os afazeres, despesas e as responsabilidades da casa.
- Muitos filhos sustentam os pais financeiramente, desistindo de oportunidades afetivas ou profissionais para continuar morando com eles.
- Existem casos de dependência física por motivo de doença dos pais onde o filho escolhe morar com os pais para cuidar deles.
- Há situações de dependência e chantagem emocional por parte dos pais, onde o filho não consegue amadurecer separando-se dos pais, tornando-se imaturo mesmo na vida adulta.
- Filhos acomodados que exploram seus pais, transformando-os em seus empregados e eternos provedores financeiros.
4-) Considerações finais:
O processo de saída da casa dos pais necessita ser avaliado de acordo com os objetivos dessa saída, a história e o momento que atravessa cada família.
É saudável para todos que seja um momento de amadurecimento familiar, onde há uma reestruturação, sem rupturas dos laços afetivos, favorecendo a construção de uma nova identidade familiar.
Essa saída não deve ser vista pelos pais como um “abandono” por parte de seus filhos, mas sim como um momento onde os filhos atingiram a maturidade para serem eles mesmos. O que muda não é o amor, mas a forma como demonstrá-lo. Geralmente as mães dificultam mais esse processo do que os pais. Mães que abriram mão de tudo em suas vidas para serem estritamente mães, vão cobrar do filho um preço muito alto, pois espera inconscientemente que o filho devolva tudo o que ela fez por ele. Essas mães fazem o filho se sentir culpado só em pensar em sair de casa, julgando-o como ingrato.
Mães bem resolvidas que desenvolvem ao longo da vida todos os seus papeis, como: mãe, esposa, mulher, amiga, profissional, intelectual, esportista, artista, voluntária, e muito mais que ainda pode vir, atravessa esse período com tranqüilidade, pois sente que seu filho está pronto para voar enquanto ela também continua crescendo e alçando seus vôos.
A família de origem dos pais, e a forma como os pais saíram de sua casa, se com sofrimento ou como um processo normal de crescimento, vão influenciar de forma positiva ou negativa na saída de seus filhos.
A saída dos filhos faz com que haja uma reavaliação da história e do significado da família construído até essa etapa, a fim de que seja reconstruído um novo modo de se relacionar: de adultos com adultos, e isso pode se transformar numa experiência maravilhosa, sadia e construtiva para todos os integrantes da família, trazendo um novo significado que será construído através de novas vivências.

Fonte: Maria Cristina Malimpensa Mariana - Psicóloga - CRP 06/19421 - www.clinicamcm.com.br